terça-feira, 23 de novembro de 2010

O professor da Educação Infantil e o ensino de Ciências


Autoras: JOSIANE MARTINS e SILVANA MARTINHA CÓTA


O professor de Educação Infantil e o ensino de Ciências


Ser professor hoje, é acima de tudo trabalhar no sentido de desenvolver capacidades de raciocínio, julgamento e autonomia para refletir a realidade que nos circunda. Partindo deste pressuposto, tem-se uma afirmação contraditória, visto que, ainda na educação figuram entre os educadores antigos paradigmas e fórmulas de repasses de conteúdos mecânicos e sem significados.
            Desde que nasce a criança já é inserida num mundo científico e tecnológico. Sendo que os avanços constantes, provenientes da ciência e tecnologia fazem da escola um espaço obsoleto, já que modelos ultrapassados não dão conta de acompanhar a evolução e progresso nos aspectos sociais, políticos, econômicos da sociedade, quando na educação Infantil professores e alunos deveriam ser participantes de um processo de questionamento, aprendizagem e desenvolvimento e não espectadores diante da evolução.
            O professor de educação Infantil deve estar atento às diversidades existentes em sala de aula, e consciente de que o que permeia sua prática educativa é a concepção de criança em que acredita.
            De um lado têm-se professores com uma concepção tradicional de criança; que se manifesta na transmissão-recepção de conceitos; e por outro lado um desejo de mudança que concebe a criança como um ser em potencial desenvolvimento; sendo que para encaminhar sua prática a investigação se faz necessária.
            Fazendo um breve retrocesso na educação, focando o ensino de Ciências; lembraremos talvez de alguns experimentos envolvendo água, solo, ou rápidas pinceladas em higiene, algumas doenças, e, sobretudo muitas exercícios visando à memorização de conceitos. Porém, isso quando se fala em ensino fundamental, já que para a Educação Infantil, ou “a creche”, restava apenas ao professor assistir a criança: cuidar e alimentar.
            Alguns tempos depois, com as novas leis e documentos que viriam nortear a educação, a LDB, o RECNEI, aos poucos a concepção tradicional que os professores tinham de criança não conseguia mais suprir as necessidades dos alunos da Educação Infantil. Começou-se a pensar em propostas pedagógicas capazes de construírem o conhecimento das crianças sobre o mundo que as cerca, e de si mesmas enquanto sujeitos deste mundo. Aumentou a preocupação com a Educação Infantil e conseqüentemente com a formação da classe docente, bem como sua atuação em sala de aula, visto que a LDB (lei de diretrizes e bases) passou a mencionar a educação de crianças de 0 a 14 anos como primeira etapa da educação básica; contudo, enfatizando claramente sua prioridade “Os municípios encubir-se-ão de: (...) oferecer a educação infantil em creches (0 - 03a anos) e pré-escola (04- 06a) e com prioridade para o ensino fundamental”. (Tit. IV, art.11).
            Falar do ensino de Ciências na Educação Infantil é deparar-se com lacunas; e certamente inúmeras dificuldades encontradas pelos professores, já que estes, muitas vezes fogem dos objetivos a que se propõe alcançar, não mencionam Ciência; ou mesmo, fragmentam-na em conteúdos como: corpo, plantas, esquecendo que, Ciência na perspectiva da Educação Infantil seria segundo a proposta curricular de Santa Catarina:

Promover os caminhos iniciais para a apropriação futura do conhecimento científico, como forma de interpretar o próprio homem, o mundo em que vive como os seres que nele habitam as condições econômicas e sociais, enfim, as relações todas em sua realidade material, preparando a criança para a vida com seus desafios e transformações. (Proposta curricular de Santa Catarina. 1998, p 118)

            Promover caminhos que levem ao conhecimento científico na Educação Infantil, não é algo inalcançável, a esse respeito o Referencial para a educação infantil, em seu eixo que introduz a disciplina de ciências: natureza e sociedade enfatizam que o professor deve trabalhar Ciências a partir do contexto da criança, em sua sala de aula e entorno; desenvolvendo habilidades e competências necessárias para compreender a si, o outro e o mundo que a cerca, fazendo-a participar ativamente desse processo: que é a construção própria dos conceitos científicos. “Quanto menores forem às crianças, mais suas representações e noções sobre o mundo estão associadas diretamente aos objetos concretos da realidade conhecida, observada, sentida e vivenciada.” (RCNEI, vol.3, p 169).
A criança é um pesquisador nato, em sua ânsia de compreender os fenômenos mais simples que a circunda, quer saber os porquês, deseja saber de onde vem às coisas, que conhecer o princípio e o fim, seja do céu, dos planetas, dos bichinhos que encontra mexendo na terra, e, sobretudo deseja participar de todo o processo, vivenciar. E é em seus primeiros anos de vida que isso está latente, e o que fazemos enquanto educadores, senão silenciar empurrando para o ensino fundamental, que por sua vez repassa as responsabilidades para o ensino médio, que alega talvez, que conhecimento científico seria tarefa das universidades.

O trabalho com os conhecimentos derivados das Ciências Humanas e naturais deve ser voltado para a ampliação da experiência das crianças e para a construção de conhecimentos diversificados sobre o meio social e natural. Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenômenos e acontecimentos_físicos, biológicos, geográficos, históricos e culturais, ao conhecimento da diversidade de formas de explicar e representar o mundo, ao contato com as explicações científicas e a possibilidade de conhecer e construir novas formas de pensar sobre os eventos que as cercam. (RCNEI, p 166)


Os alicerces estão na escola infantil, os fundamentos de tudo. Professores capacitados, com formação adequada, e principalmente, que aceitem diariamente o desafio, de serem instigados, questionados, e questionarem e instigarem, estes devem ser os participantes do cenário da Educação Infantil, que tal quais seus alunos fazem da pesquisa fontes de prazer, e das descobertas indagações incessantes, que por sua vez voltam como fontes de pesquisa, e assim sucessivamente.

REFERENCIAS:


BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Editora do Brasil.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Brasília: MEC/SEF, 1998.

Santa Catarina, Secretaria de Estado da educação e do Desporto.
Proposta Curricular de Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Disciplinas curriculares. Florianópolis: COGEN, 1998

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